Para
os cristãos, o perdão é um tema de base. É algo que sabemos que
devemos fazer, mas nem sempre sabemos como o conseguir. Na realidade,
quase toda a gente acaba por se deparar com esta necessidade de lidar
com situações que, intencionais ou não, deixaram a sua “marca”
negativa.
Ao
longo desta série de artigos, vou falar de alguns aspectos que
considero relevantes e também acerca de algumas noções e passos
práticos de “como perdoar”.
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Jesus
disse para perdoarmos ao nosso ofensor não apenas sete vezes, mas
setenta vezes sete. Parece muito, parece um exagero. E temos a
tendência para pensar que “não somos assim tão burros” a ponto
de permitirmos que continuem a maltratar-nos sem qualquer reação da
nossa parte. No entanto, o foco não é não haver reação e muito
menos incentivar-nos a permitir ou pactuar. Num dos próximos artigos
irei abordar este aspecto da permissividade.
Ofensa
imperdoável
É
comum eu deparar-me com pessoas que passaram por uma situação tão
grave que acreditam que nunca conseguirão perdoar. Mas afinal,
perdoar é mesmo isso. Perdoar é aquilo que precisamos de fazer
quando o assunto é tão sério que não podemos simplesmente passar
por cima ou “deixar para lá”. Se é algo ligeiro e
inconsequente, será mais fácil de ultrapassar e não terás que
passar pela luta de perdoares… ou continuares a viver com esse
fardo destrutivo dentro de ti.
É
difícil
Perdoar
é difícil. Na realidade, é uma luta de gigantes. E torna-se ainda
mais doloroso quando o que te fizeram (ou deviam ter feito e não
fizeram) teve consequências, teve um custo (emocional ou outro) que
és tu quem tem que suportar. Ou quando é uma situação que se
repete — tu lutas; tu pensas que perdoaste; consegues sentir-te
menos amargo… e a outra pessoa volta a fazer o mesmo. E a tua
ferida volta a abrir, não só por causa desse momento, mas por todas
as vezes que essa mesma situação já aconteceu; por tudo o que já
investiste dentro de ti para te libertares da dor; por verificares
mais uma vez que não conseguiste.
Sentimentos
de culpa
Quando
sabes que deves perdoar, que esse é o teu papel, surge outro
problema — a culpa de continuares a pensar nisso, a sentir a dor, a
teres a consciência de que na realidade ainda não perdoaste coisa
nenhuma. Essa culpa até poderá fazer sentido. Mas ela não leva a
um caminho de saída. A sensação de culpa não direciona para a
mudança; pelo contrário, ela agrava o problema.
Escravo
Há
dias, um cliente meu estava a dizer que tem perfeita consciência de
que o seu ofensor dorme descansado toda a noite, enquanto ele
continua às voltas na cama a lutar com as suas insónias.
A
falta de perdão é isso mesmo. Continuas escravo daquilo que o outro
te fez. Continuas a permitir que a ofensa dele continue a ser eficaz
em te destruir. Ou seja, aquilo que te fez tanto mal quando
aconteceu, continua a fazer-te o mesmo mal de cada vez que te lembras
disso. O teu agressor continua a agredir-te, sem ter que fazer nada
para isso.
Talvez
estejas a viver uma situação dessas quase a tempo inteiro… talvez
uma situação que já dura há anos… ou há décadas.
A
raiz de amargura rouba a tua capacidade de viver. Podes
continuar escravo dessa amargura… ou libertar-te do poder
destrutivo daquele que te maltratou.
A
escolha é tua!